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Cultura

Apreciar os “Sons Sociais” das outras espécies

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Apreciar os “Sons Sociais” das outras espécies
Por Carlos Maria Trindade

Os sons que as diversas espécies animais produzem na sua necessidade de comunicação instintiva sempre despertaram a minha atenção. Não só ao nível da escuta como treino musical, mas também a nível da atitude que vou tendo em relação ao universo sonoro de que tenho conhecimento. E os animais são, com certeza, uma parte importante desse meu universo.

Tento assim libertar-me da ideia de que o sentido estético contido nas formas musicais é apanágio exclusivo e inseparável da minha espécie e assumo que a linguagem de outros animais pode ser, como parte integrante de uma paisagem sonora num determinado momento, tão fascinante quanto um dialecto ou uma manifestação artística humana.

Ao largo das Antilhas, um jovem golfinho afasta-se demais do seu grupo e é atacado por três tubarões. Emite imediatamente uma série de assobios. Uma mensagem de socorro na linguagem da sua espécie. Sons curtos e repetidos que se assemelham a uma sirene de alarme, alternadamente ascendentes e descendentes. O resultado é espantoso. O grupo, composto de uma vintena de golfinhos que nadavam em animada conversação, cala-se instantaneamente. Por um momento, estabelece-se um silêncio anormal e absoluto. Logo de seguida, os animais lançam-se para o lugar da agressão a uma velocidade de aproximadamente 60 kms/hora. Enquanto os machos se esforçam por atingir as cartilagens dos inimigos com violentas marradas dorsais, as fêmeas rodeiam a vítima já ferida e, amparando-a, levam-na para porto seguro.

A linguagem dos golfinhos é um bom exemplo de uma mancha sonora complexa, composta de assobios, estalidos, gargarejos e outros sons difíceis de descrever com palavras, emitidos em glissandos muito rápidos e alternadamente modulados do agudo para o grave. Tal como a ênfase entoada que utilizamos para fazer uma pergunta no “ruído” da nossa linguagem.

O diálogo entre golfinhos é bastante sofisticado e pode prosseguir mesmo que um deles se insira num grupo barulhento. Os cientistas chamam-lhe o “efeito cocktail” e parece ser possível porque existem sons no discurso de cada um que são autênticos identificadores pessoais do tipo “Está lá? Daqui fala o Max!” que utilizamos para começar uma conversa telefónica. Assim, cada um deles sabe perfeitamente com quem está a comunicar.

assobio parece, de facto, pelas suas características de fácil propagação, ter sido também o principal formato acústico de uma comunicação humana à distância que ía para além do horizonte visual.

Os habitantes de algumas aldeias dos Pirinéus Franceses utilizam ainda hoje uma linguagem feita de assobios para comunicar entre encostas. Da mesma maneira que , nas Ilhas Canárias, o silbo gomero é um código em que os assobios são modulados pelas diferentes posições de 5 dedos que canalizam o ar à saída da boca. O ar é “apertado” e vibra a frequências bem audíveis, tal como o vento forte por uma fresta.

A agência Associated Press anuncia em Moscovo que um grupo de golfinhos “pediu ajuda” a um barco de pesca soviético não muito longe da costa da Crimeia. A pequena embarcação foi rodeada pelos animais e empurrada na direcção de uma bóia. Os tripulantes encontraram então um jovem “specimen” preso nos cabos e conseguiram libertá-lo. O grupo acolheu o acontecimento com grandes assobios e estalidos de alegria, tendo depois acompanhado ruidosamente o barco até ao porto. Eternamente gratos.

Conclusão: os “sons sociais” de algumas espécies do mundo selvagem podem interagir connosco se formos sensíveis a isso. Quantas vezes tenho a impressão, aqui nas colinas da Malarranha, que este ou aquele pássaro está a cantar para mim.

É das aves, os grandes sopranos, que falarei no próximo artigo. Até lá.

Nota: Carlos Maria Trindade escreve de acordo com a antiga ortografia.

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Atualidade

A brincar é que a gente se entente

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Por: Maria Alves. Atriz.

Metamorphose Centro de Divulgação Artística 

Ao olharmos o mundo pela primeira vez somos uma página em branco, pelo menos é assim que eu gosto de pensar. Vamos em busca da descoberta e das surpresas por este planeta de cores e sentidos especiais, onde há tanto por descobrir.

As histórias transformam-se em viagens inimagináveis, onde a imaginação naufraga num barco de piratas conquistado pela criatividade do pequeno ouvinte. A criança tem esta apetência natural para sonhar acordada com um olhar atento aos pequenos detalhes que giram à sua volta.

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A arte, na verdade, encontro-a no próprio ser ao ser como é. A preciosidade do que somos ao chegar a este universo não tem limites, esses aparecem mais tarde, quando chega o momento de vestirmos a camisola em conformidade com a sociedade. Até lá o risco é a melhor ferramenta.

Quando brincamos os sentidos acordam, as palavras voam, a matemática saltita por entre pegadas, as ciências mergulham nos rios e as artes misturam tudo num grande jogo. O jogo é o meio para alcançar os benefícios das práticas coletivas e o que daí advém, a consciência está no jogo e nos seus objetivos e por isso ganha um carácter libertador, no qual a comunicação e interação se fortalecem sem ser algo forçado aos olhos do jogador. De acordo com Konrad Langer, na sua Teoria do Exercício Complementar, «o jogo visa, antes de tudo, completar o Eu.»(Langer apud Sousa, 2003).Escondemo-nos enquanto alguém conta os números até se cansar, falamos silabicamente ao chamar 1,2,3, Macaquinho do Chinês, rimos quando alguém imita a professora a fazer a chamada ou o vizinho da bengala a correr atrás de nós depois de tocarmos à sua campainha.

Afirmar que as artes são essenciais no crescimento de todos nós parece-me pouco, porque a importância está na capacidade de unirmos todas as áreas do conhecimento e brincar ao faz de conta. Encontrar na aprendizagem o jogo da expressão dramática, o corpo desperto pela dança, o ouvido atento aos sons da rua, a vontade de pintar paisagens e construir esculturas moldadas pelas nossas mãos. Isso tudo é vital e torna-se imprescindível quando a criatividade primordial nas artes catapulta para algo insubstituível na vida de todos nós.

A arte tem este dom de conseguir fazer com que cada pessoa tenha a possibilidade de descobrir a sua capacidade de expressão, de tomar consciência do seu próprio corpo, de construir a sua linguagem, de observar, de escutar e conhecer o outro. Segundo Tolstoy «Art is not a handicraft, it is the transmission  of feeling the artist has experienced» (Diffey, 2015).

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Cultura

Sertório Ramalho

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Por : Margarida Nunes

 

Sertório Ramalho, um artista multifacetado, apresenta de 3 de Junho a 31 de Julho, no Centro Cultural de Cabeção, a exposição denominada “Arte e Tradição” onde se incluem peças originais das suas coleções particulares e réplicas confecionadas pelo próprio.

Dado que esta edição do Atão é maioritariamente dedicada à criança, pedimos a Sertório que nos contasse um episódio de infância.

“Eu em criança era endiabrado, vivaço e traquinas!”

Riu-se

“Os meus vizinhos sofriam. Arrancava os pés às melancias, pisava as nabiças e comia as melhores laranjas. Para não falar, que com uma cana e uma lata, todos os dias batia nos muros a infernizar a vida aos velhotes”

Tornou a sorrir

“A minha mãe tinha-me proibido de tomar banho no canal, por ser demasiado perigoso. Um dia fui com três amigos para o canal e a minha mãe soube.

Foi até lá, pegou na minha roupa, e com uma vara de marmeleiro na mão, obrigou-me a voltar para casa, a toque de caixa, e …TODO NU!”

– E então?

“Fiquei com o rabo empolado, mas aprendi a lição.”

Sertório Ramalho, 48 anos, nasceu em Lisboa mas é de matriz morense. `Trabalha na Câmara Municipal de Mora. É músico e professor de música.

Visitar a sua exposição é visitar as tradições do concelho.

É sentir o amor sem limites de um filho que, após a cegueira da progenitora devido às diabetes, honrou o seu trabalho artístico continuando a executar, com mestria, os seus bordados e tricôs.

 

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Atualidade

Coaching para Pais

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Por:  Cristina Valente 

 Educar é decidir entre vários caminhos. Educar implica refletir sobre o que queremos para os nossos filhos. Como os queremos educar? Que adultos queremos que sejam no futuro? Nenhum de nós nasceu com a competência para ser pai ou mãe. E a intuição não basta. É preciso trabalho e ter vontade de aprender.


Sinopse

Em O Que se Passa na Cabeça do Meu Filho?, a psicóloga Cristina Valente apresenta ferramentas úteis para entender os estados mentais e as necessidades emocionais dos filhos, desde as primeiras birras à adolescência.

Numa abordagem original e muito prática, a autora identifica diferentes situações com que os pais se defrontam no dia-a-dia, de três perspetivas diferentes:

– O que a criança está a pensar ou a sentir; – O que os pais estão a pensar; – As chaves para resolver com calma e eficácia todos os desafios.

Sinopse

Socorro, tenho um filho adolescente em casa!

Cristina Valente, explica-nos que a capacidade de antecipar é uma das competências fundamentais em pais de adolescentes. Enquanto os pais reativos esperam que aconteça um problema e tentam resolvê-lo «em cima do joelho», os pais proativos preparam-se e planeiam cuidadosamente o que fazer, dizer, sentir, decidir.

Com estratégias, conselhos práticos e ferramentas úteisO Que se Passa na Cabeça do Meu Adolescente? ensina-nos a perceber os comportamentos, a compreender o seu cérebro, as mudanças porque passam, as suas emoções, a melhor comunicar com eles, sem discussões nem lutas de poder.

Cristina Valente garante-nos que o melhor que podemos dar aos nossos filhos adolescentes é a capacidade para saber tomar boas decisões, escolher o seu caminho e dar-lhes asas para voar em segurança.

Sinopse

A loucura dos dias que vivemos tem servido, sobretudo, para enterrar emoções, para educar mais com a cabeça do que com o coração, para nos virarmos mais para fora, para o que é visível e racional… do que para dentro, para o que somos e sentimos. Como consequência, são muitos os pais que se encontram confusos, exaustos e sem esperança. Maior ainda é o número de crianças e adolescentes que se sentem incompreendidos, desconectados e até mesmo perdidos.

Cristina Valente, traz-nos um livro prático, com dicas e exercícios para ajudar a fomentar a comunicação afetiva e a linguagem emocional entre pais e filhos. Aqui, apresenta-nos uma nova visão da educação, baseada no exercício do amor verdadeiro e na conexão com a mente e com as emoções uns dos outros.

Um livro repleto de ferramentas que permitem fazer mudanças na forma de ensinar regras e valores a filhos e alunos, bem como a lidar com as suas emoções de forma inteligente e positiva. Só quando os ensinamos a identificar e a gerir os seus estados emocionais é que eles conseguem mudar comportamentos. E quando isso acontece, os resultados melhoram.

Ensinar crianças e adolescentes a tornarem-se emocionalmente inteligentes faz com que aprendam a lidar com as emoções e a desenvolverem competências para enfrentarem o mundo tal como ele é.

 Toda a informação foi retirada do site da editorial Presença onde os livros referidos podem ser adquiridos.

Cristina Valente é formada pelo I.S.P.A. – Instituto Superior de Psicologia Aplicada (Lisboa) e Master Practitioner em Programação Neurolinguística, formada pelo INEXH – Instituto Nacional de Excelência Humana (São Paulo, Brasil). É trainer da Equipa de Lisboa e da Madeira do Treino das Emoções / DL – Desenvolvimento e Liderança, assim como da versão para Adolescentes (DL Jovem). É autora de Coaching para Pais e O Que se Passa na Cabeça do Meu Filho? Concebe formações online de coaching parental para colégios e empresas, assim como consultas in home visits, workshops, palestras. Começou a trabalhar quando era ainda adolescente, fez carreira como apresentadora, jornalista e editora nas áreas da Educação e Cultura na RTP, RTP Açores, TVI e Canal de Notícias de Lisboa (atual SIC Notícias). Foi quadro superior numa multinacional portuguesa nas áreas da Formação e Responsabilidade Social. Cristina Valente é mãe de dois adolescentes, Tiago e Constança.

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