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História

CRÓNICAS FERROVIÁRIAS DO RAMAL DE MORA

Publicado

em

Estação do Caminho de Ferro de Pavia, Fotografia de Duarte Querido em 2019

 

CRÓNICAS FERROVIÁRIAS DO RAMAL DE MORA

 

Rmal de Mora

1-Mapa da Linha da Ponte de Sôr, ligando Évora a Mora; 2-Engenheiros Ingleses nas obra de construção da Linha do Leste em 1856.

 

PARTE 2-”Festividades” pela chegada do primeiro comboio a Pavia, Cabeção e Mora

“Os meios de que devemos lançar mão, para que um povo se desenvolva e enriqueça, é sem dúvida, facilitar-lhe os meios de poder comercializar.”[1]

Olá,

Esta é a segunda parte da Crónica Ferroviária do Ramal de Mora, seguindo-se à primeira a que foi nomeada como “Pouca terra, muita terra”, e onde se resumiu a cronologia ferroviária para construir a Linha da Ponte de Sôr, permitindo assim levar o comboio ao Concelho de Mora e à sua vila, através de Pavia e Cabeção.

Vamos agora descobrir como o povo se jubilou com a chegada do primeiro comboio à estação da sua terra e que festividades foram realizadas .

“Todos a Bordo” – O Chefe apita. A buzina toca. O comboio parte.

1906-Festividades pela Chegada do primeiro comboios Vila Real

 

1907-Inauguração do lanço de linha entre Vila Real e Pedras Salgadas

 

1908-Inauguração da linha do Vale do Vouga

 

1927-Festividades pela Chegada do primeiro comboio a Reguengos de Monsaraz

 

1936-Festividades pela Chegada do primeiro comboios a Sines

PARTE 2-”Festividades” pela chegada do primeiro comboio a Pavia, Cabeção e Mora

1903, 3 de abril – Primeira Reunião de Interessados

3-Doutor Joaquim Nunes Mexia

“…realizou-se na Associação Comercial (em Évora) a primeira reunião de interessados pela construção da Linha da  Ponte de Sôr, reunião em que estiveram representados todos os concelhos que utilizaram aquela linha e em que se nomeou uma comissão composta dos Srs. Dr. Joaquim Nunes Mexia de Mora [2], conselheiro José Soares[3] e Joaquim Manuel de Matos Perez[4], o mais devotado propagador da construção daquela linha e o iniciador de todos os trabalhos…”

Pelo Concelho de Arraiolos estiveram três interessados, pelo da Ponte de Sôr sete interessados e pelo de Mora, estiveram presentes outros sete, os quais:

Joaquim António Arnaud[5], Luis Vieira da Silva[6], Francisco Pedro Barata[7], João Lopes Aleixo[8], Alfredo Eduardo de Almeida[9], José Homem da Costa[10] e António Lopes Aleixo[11]. Foi observado nessa reunião, que “os reconhecimentos feitos, demonstram a barateza da linha, cujo custo médio se podia calcular em 12 a 13 contos por quilómetro” A 3 de maio, realizou-se no “salão nobre do Teatro Garcia de Resende, uma conferência sobre os estudos possíveis traçados da linha, sob orientação do engenheiro Fernando de Sousa[12]

 

1907 – O comboio chega a Arraiolos

O Comboio chega pela primeira vez a Arraiolos a 20 de abril, sendo celebrada a inauguração do Caminho de Ferro entre esta vila e a cidade de Évora.

1908, 25 de maio  –  O comboio chega a Pavia

Em maio de 1908 é celebrada a inauguração do Caminho de Ferro entre Arraiolos e Pavia.

A 22 – sexta-feira, é publicada a portaria que autoriza a abertura provisória à exploração do lanço entre Arraiolos e Pavia.

A 25 – segunda-feira é celebrada a exploração pública do troço, com a chegada do primeiro comboio à estação.

“Chegou pela primeira vez o comboio a Pavia, na Linha de Évora à Ponte de Sôr.”[13]

Infelizmente, não existem relatos jornalísticos sobre alguma festividade que possa ter existido. Provavelmente, não terão existido como se informa no único registo jornalístico:

1908, 11 de julho – O primeiro chega a Cabeção e Mora

A 11 de julho de 1908 – sábado – é celebrada a inauguração do Caminho de Ferro entre Pavia,Cabeção a Mora

“ É hoje aberto à exploração o troço de Pavia a Móra…por enquanto haverá apenas dois comboios diários, mas logo que os trabalhos estejam concluídos, ficará havendo quatro.
O comboio descendente sai de Móra às 6 horas e 8 minutos da manhã e o ascendente chega às 12 horas e 4 minutos da noite. Consta-nos que vai bastante gente desta cidade assistir à inauguração.”

Festas em Cabeção pela ocasião da recente inauguração do caminho de ferro

Festividade na chegada do comboio a Cabeção
Discurso de Inauguração pelo Presidente (ou Padre) da Paróquia de Cabeção[14]

“Se outrora a virtude de uma grande Rainha mereceu que o ouro se tornassem rosas, talvez que a pureza e sinceridade da alma de um povo rude mas bom, tendo por interprete o seu não menos rude pároco, tenham o poder, o condão de converter as flores do campo, únicas que em plena charneca alentejana podemos oferecer, em formosíssima roda de ouro, símbolo dos sentimentos da mais subida veneração e profundo reconhecimento que nesta hora de júbilo emocionam os nossos corações e que respeitosamente tributamos a Vossas Excelências.”

 “Por estas frases,  começou o Presidente da Junta da Paróquia da vila de Cabeção a sua saudação ao Governador Civil, engenheiros e representantes da Administração e Direção dos Caminhos de Ferro do Estado.

Em verdade, sinceramente afirmamos não termos há muito assistido a uma recepção tão simples como imponente, pelo entusiasmo e espontaneidade das aclamações de que foram alvo os, que por alguns momentos, hóspedes ilustres do povo de Cabeção.

A concorrência do povo era enorme. Só não compareceu quem absolutamente não pôde, sendo o aspecto das proximidades da estação verdadeiramente o de um arraial.”

Um descarrilamento, logo no dia de inauguração

“Entretanto, aproximava-se a hora de chegada , sem que porém se recebesse sinal de partida da estação de Pavia, uma certa inquietação começou a manifestar-se, justificada pouco depois, pela notícia de que o comboio descarrilara ao entrar na estação de Vale do Paio, felizmente sem desastres a lamentar, além do dissabor da ocorrência.

Mais uns momentos de espera que não afrouxam o entusiasmo.

“Por ter saltado uma das rodas da máquina que puxava o comboio, houve um descarrilamento sem maior importância e que felizmente não ocasionou o menor desastre pessoal.

O comboio, que se compunha de muitas carruagens, teve de ser rebocado até à estação de destino – Mora – por uma máquina de serviço de balastragem.”

Problema resolvido, a chegada

“Os relógios marcavam quatro horas e tantos minutos, e é dado o sinal de partida da estação de Pavia. A multidão alegre, num enorme contentamento, acorre de todos os lados, para os seus lugares, ansiosa, quando à volta da uma curva surge o comboio inaugural caminhando, grave e cautelosamente.

Vivas, entusiasmos e brinde com champanhe

16. Conselheiro Fernando de Sousa

“Aproxima-se, e uma estrondosa salva de palmas, abafa os sons do hino nacional executado pela Filarmónica Montargilense, subindo ao ar inúmeros foguetes.

Levantam-se entusiásticos vivas à Administração dos Caminhos de Ferro do Estado, ao conde Paçô Vieira,  ao conselheiro Fernando de Sousa[15], ao dr. Joaquim Nunes Mexia e ao povo de Cabeção.

Entretanto , os convidados apeiam-se, dirigindo-se, precedidos da comissão, para uma elegante barraca ornamentada a primor, a fim de lhes ser oferecida uma taça de champanhe. Duas elegantes meninas, Maria Judite Falcão da Silva e Marta Daniel da Costa, acompanhadas do académico Santos Romão, adiantam-se e oferecem um lindo ramo de flores naturais ao conselheiro Fernando de Sousa, e dois outros para o conde Paçô Vieira e dr. Mexia, com belas fitas de seda.”

DISCURSOS

Pelo Presidente da Junta da Paróquia de Cabeção

“Toma a palavra o Presidente da Junta da Paróquia de Cabeção, que em palavras simples, porém sentidas, saúda em nome do povo de Cabeção, todos aqueles que pela sua inteligência e esforços de dedicados, que contribuíram a cooperaram na obra do Caminho de Ferro de Évora a Móra, especialmente os excelentíssimos senhores conde de Paçô Vieira, conselheiro Fernando de Sousa e dr. Mexia.

17-Conde de Paçô Vieira

Ao senhor conde de Paçô Vieira[16],  disse, se deve o gesto decidido que arrancou às cortes o diploma legal, indispensável, que assegurou a realização das mais ardentes esperanças desta região, honrando-se em subscrevê-lo.”

“Exalta em seguida o patriotismo do conselheiro Fernando de Sousa, a inteligência privilegiada, figura de relevo no meio social Português, em quem não soube que mais admirar , se as extraordinárias faculdades de trabalho, se a erudição vastíssima que o torna familiar como os mais variados ramos do saber e lhe marcou um lugar distintíssimo entre os distintos jornalistas portugueses, se a grandeza do seu caráter diamantino impondo-se pela rigidez e inflexibilidade de conduta moral, pelas crenças arraigadas de antigo português, que o tomam paladino extremo de Deus e da Pátria.

O nome de Sua Excelência está gravado no coração de nós todos, o povo de Cabeção, como o de um grande amigo do Concelho de Mora.

Referindo-se ao dr. Joaquim Nunes Mexia, calorosamente põe em relevo o que o povo de Cabeção deve a esse homem duma perspicácia singular que se releva duma maneira brilhante na sua orientação sempre nobre, sempre elevada e que tão belos frutos têm produzido.

Filho ilustre, honra do Concelho de Mora e do distrito de Évora, ele tem todas as qualidades de um bom, de um honesto sobre ser um devotado amigo de Cabeção.

Termina afirmando que está absolutamente certo que Suas Excelências continuarão a ser grandes amigos do povo de Cabeção, do povo que trabalha, produz e quer viver, do povo que aqui veio de fé de esperança, patentear a sua gratidão, bebendo pelo representante do governo, pelo conde de Paçô Vieira, administração dos Caminhos de Ferro, conselheiro Fernando de Sousa e do dr. Joaquim Nunes Mexia.

Agradece em nome do sr. conde Paçô Vieira, no do sr. Ministro das Obras Públicas e em seu nome, as expressões que lhe foram dirigidas, o sr.  Governador Civil, enaltecendo a figura preeminente do sr. Conde de Paçô Vieira.

18-Conselheiro Augusto César Justino Teixeira

Pelo Conselheiro Justino Teixeira [17]

Pela Administração dos Caminhos de Ferro do estado, fala o conselheiro Justino Teixeira, simpática figura de velho espírito cintilante e que historia os esforços da alta corporação a que pertence , para que as nossas esperanças se tornassem facto, presta homenagem ao conselheiro Fernando de Sousa e penhorado agradece a manifestação dos Cabecenses.

Pelo Conselheiro Fernando de Sousa[18]

Toma em seguida o conselheiro Fernando de Sousa que, significando o seu apreço pelo povo de Cabeção e salientando o benefício importantíssimo que a região representa o caminho de ferro, declinou  nos seus ex.mos colegas  as honras que lhe faziam declarando-se pronto a patrocinar as aspirações legítimas de Cabeção.”

Pelo Presidente da Junta da Paróquia de Cabeção

“O Presidente da Junta da Paróquia agradece em nome do povo, a elevada honra que suas exªs. lhe faziam recebendo as suas homenagens, levantando vivas a S.M. El Rei, S.M. a Rainha, ao Ministro das Obras Públicas, Administração do Caminho de Ferro do Estado, conselheiro Marques e Mendes.”

Últimos louvores antes da partida

Bem merece a comissão rasgados louvores, pela forma como se desempenhou na sua missão.

Seria porém injustiça não salientar a ação do ex.mo sr Luiz Vieira que pela sua muita dedicação à sua terra, pelos esforços a que se não se poupa para conseguir a prosperidade da sua Pátria, constitue com a sua ex.ma família um exemplo a seguir pelos verdadeiros amigos de Cabeção, e o ex.mo sr. António Nunes Barata que em tudo e gentilmente se pôs ao dispor da comissão de que era membro valiosíssimo.

Com justiça se deve dizer que o povo de Cabeção, pela sua conduta e boa vontade, manifestada não só na concorrência à festa, mas por ter contribuído com o óbulo da sua pobreza, mereceu bem a simpatia e os louvores de todos que apreciaram a sua bela atitude.

Partida do comboio para a vila de Mora

“Dá-se o sinal de partida e põe-se em marcha o comboio por entre as entusiásticas aclamações .
Mas a receção de Cabeção foi a primeira etapa triunfal acolhimento feito por Móra.”

 Festas em Móra pela ocasião da recente inauguração do caminho de ferro

11 de julho de 1908 – sábado

“Tudo quanto de distinto se conta na Sociedade de Mora, se encontrava na estação. bem como representantes das Câmaras Municipais de Arraiolos, Avis[19] e Ponte de Sôr[20] e enorme multidão de povo.

O entusiasmo ao entrar o comboio nas agulhas foi delirante, os vivas consecutivos e o constante estralejar dos foguetes, salientando-se os vivas ao conselheiro Fernando de Sousa, administração dos Caminhos de Ferro do Estado e dr. Mexia.

Feitos os cumprimentos de boas vindas, forma-se um cortejo de muitos trens com todos os convidados e pessoas de representação, o qual por entre filas de povo se dirigiu aos Paços do Concelho para a sessão solene.”

Sessão solene nos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Mora

“Na sala nobre dos Paços do Concelho, com a assistência do mais seleto auditório, abre a sessão o venerado presidente da Câmara (Municipal de Mora), ex.mo sr. António Leonardo de Almeida, distintíssimo cavalheiro que também tem honrado as tradições de família no amor à sua terra natal.”

Pelo Presidente da Câmara Municipal de Mora – António Leonardo de Almeida

“Sua Ex.ª lê um primoroso discurso, no qual salientou o valor do ato que se comemorava, a magnitude do grande melhoramento para a vila e concelho de Mora, para toda a região, até ali sem vias de comunicação, registando este dia como o primeiro de uma nova era de prosperidade ..
Refere-se com palavras de elogio ao conde Paçô Vieira, conselheiro Pereira de Miranda, e tece o elogio ao conselheiro Fernando de Sousa.

Pelo Governador Civil de Évora

“Ergue-se o sr. governador civil, o qual produz em brilhante discurso, dissertando sobre a influência das vias aceleradas na transformação das regiões que beneficia, dizendo-as instrumentos indispensáveis da prosperidade moral e material das nações.
Felicita-se pela honra que lhe foi dada em representar o governador naquela brilhante festa, embora lamente a ausência, aliás justificado ao sr. ministro das Obras Públicas.
Tece o elogio do conde de Paçô Vieira, mas recorda o quanto Elvino de Brito trabalhou na obra de que Paçô Vieira foi o continuador.
Refere-se ainda ao conselheiro Fernando de Sousa e dr. Mexia, enaltecendo os seus dedicados esforços, prestando-lhe a homenagem da sua veneração e saudando na pessoa do ex.mo. Presidente da Câmara (Municipal de Mora) e da distinta assembleia, o concelho de Mora.”

Pelo Conselheiro Justino Teixeira

“Usa em seguida da palavra, o conselheiro Justino Teixeira, glória da engenharia portuguesa, que brilhantemente historia as frases porque passou até final realização, o melhoramento objeto daquela festa, salientando os trabalhos de Fernando de Sousa e Dr. Mexia, fazendo votos pela progressiva prosperidade de Mora.”

Pelo Conselheiro Fernando de Sousa

“Segue-se o sr. conselheiro Fernando de Sousa que, penhoradíssimo, agradece as expressões que lhe foram  dirigidas, declinando-as no seu ilustre colega conselheiro Justino Teixeira, e presta honra à gentileza e carinhosa hospitalidade dos cavalheiros de Mora.
Pela amizade pessoal que os liga, pela compreensão que as suas ex.ªas têm na medida exata do que lhes importa fazer, em consequência do grande melhoramento para que todos envidara os maiores esforços, e felicita-se por se ver em tão distinta assembleia e saúda o povo de Mora.
Pela amizade pessoal que os liga, pela compreensão que as suas excelências têm na medida exata do que lhes importa fazer, em consequência do grande melhoramento para que todos enviara os maiores esforços e felicita-se por se ver em tão distinta assembleia, e saúda o povo de Mora.”

22-Deputado e Senador Cardoso de Lemos

Pelo Deputado e Senador da República Portuguesa Cardoso de Lemos

“O sr. Cardoso de Lemos,[21] diz que mais nada tem a dizer, depois dos brilhantes discursos proferidos, todavia, disserta brilhantemente sobre a influência das vias aceleradas na agricultura e necessidades de transformação de processos agrícolas e o quanto elas dependem dos caminhos de ferro, termina fazendo o elogio do conselheiro Fernando de Sousa e dr. Joaquim Nunes Mexia, dois nomes que representam um esforço comum na obra do engrandecimento de Mora.”

Fim da sessão

“No meio do maior entusiasmo encerrou-se a sessão, para pouco depois se servir no club um lauto[22] e delicado jantar.

Banquete para os convidados

“O aspeto da sala era lindíssimo, ricamente ornamentada com colchas e flores com profusão.[23]

Usaram da palavra os Srs. conselheiro Fernando de Sousa, Dr. Mexia, Dr. Cardoso de Lemos, Mendonça e Costa, Dr. Rovisco, padre Romão, Engenheiro Boal e o médico do Caminho de Ferro Aníbal Saraiva, decorrendo sempre o banquete no meio da mais franca alegria e maior entusiasmo.”

“Tocou durante o jantar a banda da Infantaria n.º 4, sob a hábil regência do Sr. Torpes

Enfeitos nas ruas de Mora

“As ruas achavam-se lindamente ornamentadas, sendo ainda assim para lamentar que o empreiteiro não cumprisse quanto devia.”

12 de julho de 1908 – domingo

“Domingo, repetiram-se as iluminações, dando concerto a Banda Regimental e a Filarmónica de Mora, queimando-se um vistoso fogo de artifício.
Festas esplêndidas, sobretudo pelo entusiasmo e alta significação de patriotismo dos ilustres cavalheiros de Mora, que sem distinção se impõem à simpatia de quantos honram com o seu trato.”

 Notas finais

Assim se festejou e comemorou a chegada do comboio a Pavia, Cabeção e Mora, nos dias 11 e 12 de  julho de 1908, sábado e domingo respetivamente.
No início da exploração pública, o serviço só deverá ter disponibilizado um comboio em cada sentido, iniciando em Mora logo de manhã para seguir a Évora, regressando ao fim desse mesmo dia.
A 26 de setembro de 1908 anunciava-se que começava “a ser feito pelo caminho de ferro a condução das malas do correio”.
A 29 de setembro, anunciava o jornal Notícias de Évora, que já “andam atualmente…6 comboios ( 2 de passageiros  em cada sentido) sendo um destinado simplesmente ao transporte de cortiças, de que têm vindo grandes quantidades.”(1 comboio exclusivo a transporte de mercadorias).

Despedidas

As Crónicas Ferroviárias do Ramal de Mora, pretendem recuperar e dar a conhecer a fantástica  história do comboio entre Évora e Pavia, a Cabeção e Mora..

O trabalho foi dividido em duas partes:
Parte 1 – “Pouca terra, muita terra”
Parte 2- “Festividades”

A alegria inicial no início da construção e do serviço prestado aos povos locais, foi ficando reduzida com o passar do tempo, por o projeto não ter sido concluído entre Mora e Ponte de Sôr, passando por Montargil, onde se encontra edificada uma enorme barragem com igual nome, que com toda a certeza teria a enorme procura caso o comboio ali passasse. Mas não. Não vale a pena sonhar e lamentar.

Esse foi o principal motivo de o Ramal de Mora ter fechado.

A culpa recai principalmente nos políticos no poder nos anos 20, que desviaram a verba para concluir o troço em falta para concluir a Linha de Sines, considerada prioridade à da Linha da Ponte de Sôr. A fraca exploração e interesse comercial, além da fraca procura de passageiros, também pela fraca oferta de comboios e o surgimento do camião de transporte de mercadorias e o autocarro de transporte de passageiros feriu-o de morte.
E estes foram todos os motivos de o Ramal de Mora ter fechado.

 Pretende-se dar conhecimento e apelar a quem decide, que ainda existe uma oportunidade.
Se a Ecopista do Ramal de Mora for concluída entre Arraiolos e Mora, poderá ser possível inverter o estado vergonhoso, de desinteresse e abandono do que ainda resta.
É uma boa hora para refletir, enterrar machados de guerra e trabalhar em conjunto para fazer surgir a Ecopista do Ramal de Mora, única solução possível.
Contra isso, é o fim de um sonho que tanto custou ao povo e ao país.
Sonhemos com isso
Esperemos por isso.

PS-Dedicado aos impulsionadores e trabalhadores ferroviários

Carlos Plácido

 _______________

[1] Discurso proferido durante as festividades da chegada do primeiro comboio a Évora – 1863.
[2] Joaquim Nunes Mexia – 1870-01-14 / 1941-01-18 – proprietário e agricultor, foi presidente da CM de Mora, provedor da SC da Misericórdia de Mora, governador civil substituto de Évora e deputado parlamentar entre 1946 e 1961.
[3]
[4] Joaquim Manuel de Matos Perez – proprietário e negociante, natural de Évora, freguesia de São Pedro e casado em 26/11/1867 com Maria Isabel Peres de Matos, natural do Torrão.
[5]
[6]
[7] Francisco Pedro Barata Godinho, nasceu em 1863 e casou a 08/11/1884 com Filipa Inocência Nunes Mexia, ambos naturais de Nossa Senhora da Graça em Mora.
[8] João Lopes Aleixo natural de Cabeção, onde existe um bairro populacional em sua honra.
[9] Alfredo Eduardo de Almeida, natural de Mora, frequentou a Universidade de Coimbra nas cadeiras de Matemática, Filosofia e Medicina
[10]
[11]
[12] Fernando de Sousa foi conselheiro…. e identificado como um dos impulsionadores da construção da Linha da Ponte de Sôr. Na vila de Pavia existe a Rua Conselheiro Fernando de Sousa e na vila de Mora, uma praça. Ambas, como agradecimento pelo realizado em benefício do Concelho.
[13] Notícias de Évora (NE) 2290
[14] Reverendo ……, foi pároco da também denominada Paróquia de Nossa Senhora da Purificação, sendo esta a sua padroeira
[15]
[16]
[17] Conselheiro Augusto César Justino Teixeira – DN-10/04/1835, DF-02/02/1923. Foi engenheiro ferroviário, sendo parte da equipa de engenharia que construiu a Linha da Ponte de Sôr
[18]
[19] Avis, terá estado presente, por interesse na possível construção da Linha do Vale do Sorraia, uma linha férrea que atravessaria todo o Vale do Sorraias, ligando Fronteira ou Sousel, a Avis e daqui por Cabeção a Mora, seguindo à Quinta Grande.
[20] Ponte de Sôr terá estado presente, por interesse na construção da própria linha, continuando de Mora, por Montargil à Ponte de Sôr.
[21]
[22] Lauto – abundante ou magnífico
[23] Profusão – abundância excessiva

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Atualidade

O primeiro “1º de Maio”

Publicado

em

1º de Maio de 2021
Recuando 47 anos (1974 – 6 dias depois do dia da Liberdade)

por J. C. Mora

O primeiro “1º de Maio” visto pelo olhar de um homem, na época um menino de 12 anos.

Tinha 12 anos, era ainda uma criança, já crescida para a época, mas lembro-me perfeitamente do meu “1º de Maio” vivido no que diziam ser o primeiro“1º de Maio” comemorado em liberdade, nestes pais à beira-mar plantado.

Seis dias antes, o país vivera uma verdadeira revolução. Lisboa assistiu ao vivo mas o resto do Pais, onde se incluía o concelho de Mora, apenas acompanhou os desenvolvimentos da revolução dos Cravos, ou pela televisão, ou pela Rádio, pelo menos aqueles que na altura já tinham em sua casa estes meios de comunicação. Nos dias seguintes, também os jornais começaram a chegar ao município com fotos, reportagens e depoimentos dos heróis da revolução.

Por tudo isto, o 1ª Maio de 1974 em Mora, acabou por ser não só o dia do trabalhador (eu nem sabia na altura o significado do 1ª Maio), mas sobretudo uma manifestação para comemorar a liberdade. O povo saiu à rua em grande festa, improvisando cartazes feitos de panos brancos manuscritos com tinta preta e vermelha, com os mais e diversos “slogans” próprios para a época, tais como: “Viva o M.F.A”, ”Viva o General Spínola/Viva a Liberdade” ; “Viva as Forças Armadas” ; “Povo de Mora/Unido Jamais será Vencido”… entre outros. Eu ia bem no centro da manifestação e, tal como todos os manifestantes, gritando os “slogans” escritos naqueles cartazes improvisados.

Não me lembro onde foi a concentração, mas a manifestação deve ter juntado mais ou menos um milhar de morenses, dos 8 aos 88 anos. Percorrendo a maioria das ruas da vila, entre elas o centro, e terminando no largo da Camara Municipal, frente ao antigo cinema, onde a maioria das pessoas se aglomeraram para ouvir os discursos desse dia, vindos do Muro dos antigos Estaleiros da Camara Municipal.

Lembro-me ainda do meu pai, na véspera, pedir à minha mãe se tinha alguns lençóis velhos, para transformarem em cartazes. Ele e alguns amigos foram para a concentração do 1º Maio na capital de distrito, que juntou, segundo ele, alguns milhares de manifestantes.

Esta foi para mim e para muitos, a verdadeira festa do povo a comemorar o 25 de Abril e o 1ª de Maio. Neste dia de 1974, não havia ainda cores ou divisões politicas, eramos todos felizes, e vivíamos ainda o êxtase dos primeiros dias de Liberdade…

Hoje, 47 anos depois, estou completamente desiludido com os ideais de Abril…

Nota: As fotos são de António Gonçalves Pedro publicadas no livro “30 ANOS DE ABRIL” edição da Câmara Municipal de Mora de 2004

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Cultura

ANTA DOS PARDAIS 3 – Cabeção

Publicado

em

Ponto da situação

Decorrem, integradas no estudo de impacto ambiental, escavações no local da anta dos Pardais 3, para averiguação do grau de destruição na local em concreto provocada pela recente acção humana.

A intervenção está a cargo da empresa especializada ERA sob a alçada da Direção Regional de Cultura do Alentejo .

Esta intervenção teve como origem numa denúncia de um munícipe de Cabeção que alertou as autoridades para a de destruição do monumento em referência.

Cada vez mais, chegam relatos da destruição deste património megalítico, tendo como pano de fundo o recrudescer de culturas intensivas.

Felizmente, o estado, actuou com prontidão.

 

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