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ARBORICÍDIO EM CABEÇÃO

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Por Manuel Canelas

Recentemente o cemitério da vila apareceu’ despido’ das árvores que o ornamentavam. Seis ciprestes de grande porte foram abatidos e os seus restos mortais jazem no exterior, junto ao muro.
Pergunta-se:
Qual o motivo deste crime ecológico?…
Quem deu a ordem para o abate?…
Perguntas que, infelizmente, ficam no ar sem resposta.

Com isto, a nossa identidade e dignidade como povo, ficaram irremediavelmente diminuídas. Sem identidade, sem memória histórica não é possível construir o futuro que imaginamos.
Perceber o papel fundamental da Natureza, caminhar no campo, nos bosques dá-nos um equilíbrio em relação às situações de stress que se vivem no dia-a-dia da vida urbana. É uma forma de reencontrarmos o mais profundo do nosso ser num ambiente natural e de fazer parte desse ambiente, por isso representam um valor patrimonial insubstituível.
Estes ciprestes faziam parte habitual desses passeios. Não só pelo seu aspecto marcante e diferenciador, mas pela carga simbólica que lhes estava associada. Eram eles, mais as colónias de avifauna miúda que os procurava para refúgio nocturno, os únicos seres vivos que habitavam em permanência a terra dos mortos. Faziam-lhes companhia, uma espécie de guarda d’honra, e nós sentíamos isso, ou algo parecido com isso. Por eles nutríamos afecto e respeito.

Não é preciso muito tempo para cortar uma árvore e destruir o habitat natural. Em contrapartida, para o recriar são precisas décadas, esperar várias gerações.
Vestidos com o seu fato verde escuro no sua postura vertical, solene, os ciprestes protagonizam na paisagem uma ligação poética entre a terra e o céu Dirigem-nos o olhar para cima, para o infinito e remetem-nos à nossa condição efémera, enquanto, ao mesmo tempo, a fazem transcender-se. Como tal, são espécies a preservar em qualquer circunstância, custe o que custar.

Os cemitérios são espaços públicos, sob administração pública, mas sobre isto nenhum conhecimento ou explicação foi dada à população. É triste.
Só podemos concluir que a grosseira irracionalidade que ditou este acto é autoexplicativa.
MC

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