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O MEU AVÔ REGEDOR- UM TESTEMUNHO DE ABRIL

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Por António Falcão

Quando se deu a Revolução de 25 de Abril de 1974, eu tinha 13 anos e encontrava-me no Colégio das Caldas da Saúde a estudar. No entanto, passava praticamente todas as minhas férias em Montalvão, na casa dos meus avós paternos. O meu avô tinha uma loja onde vendia praticamente um pouco de tudo – até petróleo. Alfabetizado, o que na altura contrariava a realidade da maioria da população, foi convidado a desempenhar funções como Regedor. Acumulou, ainda, durante vários anos funções como tesoureiro da Casa do Povo de Montalvão.

A função de Regedor foi recebida, pelo meu avô, com grande sentido de responsabilidade. Na altura, ser Regedor significava ser uma autoridade civil e esta, por sua vez, controlava e garantia a aplicação das Leis e Regulamentos, informava o Município das ocorrências na freguesia e assegurar o cumprimento dos Deveres tendo, por isso, poder para denunciar os habitantes. Esta autoridade era ainda acentuada pelo facto de na freguesia existir um Posto da Guarda Nacional Republicana e da Guarda Fiscal, por se situar numa zona fronteiriça. O meu avô não tinha um espaço físico para cumprir com a função de Regedor. Tanto a sua loja como a sua casa tinham sempre as portas abertas a toda a população.

Lembro-me de inúmeras pessoas se deslocarem até à casa dos meus avós para que o meu avô pudesse ler as cartas, tanto particulares como oficiais, e responder por elas. Durante o período em que o meu avô exerceu esta função, a casa esteve sempre movimentada. No dia em que o meu avô cessou funções como Regedor garantiu à população que a porta da sua casa se encontrava aberta, como até então, para ajudar todos dentro da medida do possível. Penso que o meu avô cumpriu com as expectativas da população no que diz respeito à figura de um Regedor: simpático e respeitado. O bom senso e a benevolência caracterizaram a sua função. “… tinha um estatuto de integridade acima de qualquer um.”, pode ler-se no montalvam.blogspot.com. Mesmo depois da Revolução dos Cravos, o meu avô continuou a receber a simpatia, o respeito e a consideração por parte das suas gentes.

Tal como disse António de Spínola na sua obra País Sem Rumo, “A Revolução de Abril era necessária em 1974. A Revolução de Abril continua a ser necessária hoje”.

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