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O primeiro “1º de Maio”

Publicado

em

1º de Maio de 2021
Recuando 47 anos (1974 – 6 dias depois do dia da Liberdade)

por J. C. Mora

O primeiro “1º de Maio” visto pelo olhar de um homem, na época um menino de 12 anos.

Tinha 12 anos, era ainda uma criança, já crescida para a época, mas lembro-me perfeitamente do meu “1º de Maio” vivido no que diziam ser o primeiro“1º de Maio” comemorado em liberdade, nestes pais à beira-mar plantado.

Seis dias antes, o país vivera uma verdadeira revolução. Lisboa assistiu ao vivo mas o resto do Pais, onde se incluía o concelho de Mora, apenas acompanhou os desenvolvimentos da revolução dos Cravos, ou pela televisão, ou pela Rádio, pelo menos aqueles que na altura já tinham em sua casa estes meios de comunicação. Nos dias seguintes, também os jornais começaram a chegar ao município com fotos, reportagens e depoimentos dos heróis da revolução.

Por tudo isto, o 1ª Maio de 1974 em Mora, acabou por ser não só o dia do trabalhador (eu nem sabia na altura o significado do 1ª Maio), mas sobretudo uma manifestação para comemorar a liberdade. O povo saiu à rua em grande festa, improvisando cartazes feitos de panos brancos manuscritos com tinta preta e vermelha, com os mais e diversos “slogans” próprios para a época, tais como: “Viva o M.F.A”, ”Viva o General Spínola/Viva a Liberdade” ; “Viva as Forças Armadas” ; “Povo de Mora/Unido Jamais será Vencido”… entre outros. Eu ia bem no centro da manifestação e, tal como todos os manifestantes, gritando os “slogans” escritos naqueles cartazes improvisados.

Não me lembro onde foi a concentração, mas a manifestação deve ter juntado mais ou menos um milhar de morenses, dos 8 aos 88 anos. Percorrendo a maioria das ruas da vila, entre elas o centro, e terminando no largo da Camara Municipal, frente ao antigo cinema, onde a maioria das pessoas se aglomeraram para ouvir os discursos desse dia, vindos do Muro dos antigos Estaleiros da Camara Municipal.

Lembro-me ainda do meu pai, na véspera, pedir à minha mãe se tinha alguns lençóis velhos, para transformarem em cartazes. Ele e alguns amigos foram para a concentração do 1º Maio na capital de distrito, que juntou, segundo ele, alguns milhares de manifestantes.

Esta foi para mim e para muitos, a verdadeira festa do povo a comemorar o 25 de Abril e o 1ª de Maio. Neste dia de 1974, não havia ainda cores ou divisões politicas, eramos todos felizes, e vivíamos ainda o êxtase dos primeiros dias de Liberdade…

Hoje, 47 anos depois, estou completamente desiludido com os ideais de Abril…

Nota: As fotos são de António Gonçalves Pedro publicadas no livro “30 ANOS DE ABRIL” edição da Câmara Municipal de Mora de 2004

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